sábado, 30 de maio de 2009

Relações de saber/poder


As relações de saber/poder estão por toda parte, em casa, na escola, no trabalho, nas relações de amizade e até entre os apaixonados... e este é um processo natural nas relações humanas. O embate gerado pelas divergências de idéias ou ideais, não se constitui, em si, num mal, muito pelo contrário, se bem administrado, pode gerar crescimento para todos os envolvidos.

Entretanto, nem sempre é assim, comumente as relações de saber/poder são exercidas através de práticas que multiplicam o mal nas relações e impõe a morte ao indivíduo enquanto ser pensante e co-autor da realidade na qual está inserido. O mais forte subjuga o mais fraco, impondo a política da luz, e não falo aqui da luz que liberta, mas da que aprisiona, ou seja, a política do holofote, onde o mais fraco fica em evidência e é induzido a revelar e expor suas fraquezas, as quais lhe conferem um semblante patológico, capaz de inviabilizar ou desacreditar sua voz, gerando o aprisionamento de sua auto-imagem na fraqueza, levando-o a tropeçar nas próprias pernas, perdendo o fio da meada ou qualquer noção de razão.

A dúvida e o silêncio servem bem ao exercício do poder, porque a dúvida é a mãe de toda ignorância e o silêncio o mural do medo. Na dúvida, imperam a insensatez e a crença na incapacidade pessoal de coexistir. No silêncio não há nada, nenhuma palavra ou diálogo possível, então diante do inconcebível a única expressão grifada com letras garrafais é o medo, medo de quem se cala, medo de quem nada escuta.

O ambiente gerado pelo uso de instrumentos inadequados no exercício do poder é, sem dúvida, perigoso, porque nunca permitirá a diminuição dos conflitos, no máximo, alcançará uma sensação irreal de controle. Na verdade, o que subsistirá, é o prolongamento da insatisfação e do sentimento de inadequação, o qual levará a mais conflitos, consolidando o fracasso das relações e perpetuando os efeitos de contágio para as relações futuras.

O exercício do poder, em qualquer esfera social, pública ou privada, é sempre um desafio para aqueles que o exercem, e deve ser encarado como uma oportunidade de desenvolvimento mútuo e contínuo, objetivando o envolvimento e a manutenção das relações, a partir do engajamento das partes na construção de um diálogo aberto, franco, democrático, igualitário e não para a criação de uma coleção de monólogos, porque o saber/poder compartilhado é a luz, a força que sustenta o discurso e a ferramenta capaz de libertar o homem de práticas que, por hábito ou história, o aprisionam.

Por Cristiane Alberto.

2 comentários:

  1. Cris,
    Parabéns pelo texto! Coerente, concatenado, direto! Lendo seu artigo comecei a refletir sobre o exercício do poder fazendo uma relação com o período medieval e o desenvolvimento histórico do trabalho, a sua origem, ou seja a tortura... o medo, a inferioridade, a culpa... A culpa é um sentimento "inventado" logo após a instauração do medo... quem é o culpado? Como postou Pedro Manoel em artigo com temática semelhante, perde-se mais tempo procurando culpados que resolvendo conflitos/ problemas. Fico feliz porque o medo é algo que pouco a pouco estamos conseguindo vencer, falo principalmente das mulheres que tomaram a frente de muitas mudanças sociais de forma silenciosa, porque não podiam se expor... e a mudança nem sempre ocorre de forma pacífica, é com muita luta e a guerra nem sempre é corporal. Nossa guerra contra o medo é mais do que nunca psíquica, emocional, primeiramente em entender que somos humanos, rídiculos e limitados, mas nem por isso deixamos de refletir acerca da realidade que nos atinge como faca. Obrigada!

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  2. Vejo as relações de poder com certo assombro. De um lado está quem manda e do outro que é mandado. Tais relações são sustentadas na idéia de posse. Quem manda possui algo muito precioso para quem é mandado. O desejo e a necessidade são mais fortes do que a liberdade. A lista de itens varia desde um emprego, salário, alimentação até sentimentos como amor. Quem precisa está em desvantagem e se coloca às ordens numa relação de submissão. Afinal “manda quem pode obedece que tem juízo” essa é uma regra clara. O conflito se estabelece quando as regras são desleais e desiguais nas quais ou ônus é maior que o bônus esperado. Ai não tem jeito chegou o fim.
    Pedro Manoel

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